“A mediocridade de Sócrates quando tem que defrontar o exterior sem guião, é visível com todo o seu esplendor na conferência universitária em Columbia. É verdade que Mário Soares também falava com desenvoltura várias versões de espanhol e francês, sem ter qualquer vergonha da sua pronúncia e criatividade com as palavras. Mas era quem era, era senhor de um à-vontade que lhe vinha da autoridade da sua biografia [verdade seja que muitas vezes também de uma certa irresponsabilidade consentida], e a sua enorme capacidade de comunicação e empatia apagava o mau castelhano. Mas, nesses exercícios de comunicação, Soares nunca actuava por esperteza, por exibição, e tinha alguma coisa para dizer. Sócrates, com o seu bad english, prova material dos seus estudos de "inglês técnico", pouco mais tem que dizer do que algumas banalidades sobre as energias renováveis, que, para um público de jovens universitários americanos, não acrescentam nada. É pela vacuidade do exercício que o bad english depois brilha em toda a sua mediocridade."
[José Pacheco Pereira, in 'Abrupto']