08 April, 2011

Que lindo que eu sou…



(…) Há momentos reveladores. E imagens que valem mesmo mais de mil palavras. Há duas semanas tinha sido a fuga, escadaria abaixo, de José Sócrates ao debate do PEC IV no Parlamento, virando as costas à casa da democracia durante o debate mais importante da sua vida política. Quarta-feira – dia do anúncio do pedido de ajuda externa – foi a vinda do mesmo José Sócrates à sala onde falaria aos jornalistas para testar a sua imagem. O primeiro-ministro apareceu-nos nas televisões em mangas de camisa e a perguntar a um desconhecido “Luís” se ele lhe explicava como ficava melhor nos ecrãs de televisão. O momento seria cómico se não fosse trágico: a poucos minutos de anunciar uma decisão que o próprio classificaria como de último recurso, o primeiro-ministro sai de uma reunião do seu gabinete e dirige-se a uma sala cheia de jornalistas com o único fito de assegurar que ficará bem na televisão.






Estes dois momentos – a fuga de São Bento e o teste de imagem – revelam um político que vê o mundo a partir do seu umbigo, um político sem espessura de estadista, ou mesmo de democrata, antes centrado na sua pessoa, um político que faz sempre girar os seus discursos em torno do seu “eu”, um politiqueiro vaidoso que coloca sempre a sua imagem em primeiro lugar e não pensa senão na sua sobrevivência (…)

[Publicado por JMF no 'Público']