“Há 20 anos, um DJ de Bragança trocou a música de dança pela "voz do povo" e transformou-se no "Tio João" de uma imensa família unida por um programa de rádio que tirou da solidão os idosos transmontanos.
Duas décadas depois a família de tios e tias continuam a aumentar e a despertar com o "Bom Dia Tio João", "a rádio novela que retrata o dia a dia de pessoas simples que se dão ao luxo de viver em família".
É assim que Nicolau Sernadela, cuja vida se confunde com o "Tio João", resume esta "fábrica de fazer amigos" com o microfone aberto para partilhar alegrias, tristezas, saber dos trabalhos agrícolas ou mostrar talentos.
Fazem de "migalhas" pão, sempre que alguém precisa, e já angariaram milhares de euros para acudir a vítimas de incêndios, comprar cadeiras de rodas ou óculos.
"A nossa missão é dar-lhes a companhia que não têm, não quero que em casa das pessoas entre solidão e tristeza", diz à Lusa Nicolau Sernadela que tinha 21 anos quando iniciou este duradouro fenómeno de comunicação.
Na mesma época nascia uma das rádios de Bragança, a RBA-Rádio Bragançana, e pediram-lhe "para pôr uns discos" de madrugada, ao regressar da discoteca onde era DJ.
Pensou no nome de "sonhos cor de rosa" para aquele espaço musical, mas depressa se apercebeu que quem o ouvia não eram os que como ele se preparavam para dormir mas os que estavam a acordar para a vida.
Na madrugada de 29 de Outubro de 1989 abriu o microfone, disse que se chamava "Tio João" e que queria "formar a maior família do mundo".
Os "tios" e "tias" descobriram no "aparelho pequenino que se chama rádio, a família que lhe faltava".
"Os filhos emigraram, eles ficaram sózinhos em casa, então descobriram o "Tio João, que fala em nós, na nossa terra, nas memórias", conta o locutor que um ano depois reunia centenas de pessoas no primeiro Picnicão.
"Ele podia ser nosso neto", foi a expressão de espanto que mais se ouviu quando os "tios" o conheciam pessoalmente e não imaginavam que por detrás do "Tio João" estava um jovem de 21 anos.
Pode não ter uma voz sensual, nem ser bom falante mas, como diz, fala "com o coração e a mesma linguagem da família".
Ao longo de 20 anos já lhe chamaram "parolo" e criticaram-no por "só trabalhar para velhos", mas Nicolau diz que trabalha para "gente grande".
Alguns não sabem ler nem escrever, mas mesmo desconhecendo uma nota musical que seja constroem canções, da mesma forma que versejam sobre todos os assuntos, contam histórias, lenga-lengas e são portadores de um património que se vai perdendo.
O programa começa religiosamente às 06:00 com as orações da manhã rezadas por um elemento da família, e segue-se uma "chuva" de telefonemas.
"Quando comecei o programa não imaginava que as pessoas podiam estar na apanha da cereja, encarrapitadas num cerdeiro e a falar para o "Tio João", os pastores com os rebanhos a conversar e a ouvir, ou que centenas de tractores tenham rádio instalado para enquanto trabalham ouvirem o Tio João", contou.
Para muitos o "Tio João" foi a oportunidade de saírem pela primeira vez da sua aldeia em excursões, cruzeiros e férias.
Já fizeram 171 viagens e a família foi duas vezes abençoada em Roma, em 1994, pelo papa João Paulo II e, em 2006, por Bento XVI.
Tem "família" espalhada por 2.472 localidades, sobretudo transmontanas e beirãs, mas em breve o programa vai chegar mais longe, rumo ao litoral, com a retransmissão através de outras emissoras.
O programa já ultrapassou as fronteiras com "tios" nas aldeias espanholas vizinhas de Bragança, e convites de universidades castelhanas para o "Tio João" falar a estudantes de Comunicação deste fenómeno.
A Internet abriu também novos mundos à família, permitindo aos "tios" ouvirem o programa quando estão longe em visita aos filhos ou "encontros" como o de uma tia que foi surpreendida pelo telefonema da filha que estava a ouvi-la na Austrália."
Duas décadas depois a família de tios e tias continuam a aumentar e a despertar com o "Bom Dia Tio João", "a rádio novela que retrata o dia a dia de pessoas simples que se dão ao luxo de viver em família".
É assim que Nicolau Sernadela, cuja vida se confunde com o "Tio João", resume esta "fábrica de fazer amigos" com o microfone aberto para partilhar alegrias, tristezas, saber dos trabalhos agrícolas ou mostrar talentos.
Fazem de "migalhas" pão, sempre que alguém precisa, e já angariaram milhares de euros para acudir a vítimas de incêndios, comprar cadeiras de rodas ou óculos.
"A nossa missão é dar-lhes a companhia que não têm, não quero que em casa das pessoas entre solidão e tristeza", diz à Lusa Nicolau Sernadela que tinha 21 anos quando iniciou este duradouro fenómeno de comunicação.
Na mesma época nascia uma das rádios de Bragança, a RBA-Rádio Bragançana, e pediram-lhe "para pôr uns discos" de madrugada, ao regressar da discoteca onde era DJ.
Pensou no nome de "sonhos cor de rosa" para aquele espaço musical, mas depressa se apercebeu que quem o ouvia não eram os que como ele se preparavam para dormir mas os que estavam a acordar para a vida.
Na madrugada de 29 de Outubro de 1989 abriu o microfone, disse que se chamava "Tio João" e que queria "formar a maior família do mundo".
Os "tios" e "tias" descobriram no "aparelho pequenino que se chama rádio, a família que lhe faltava".
"Os filhos emigraram, eles ficaram sózinhos em casa, então descobriram o "Tio João, que fala em nós, na nossa terra, nas memórias", conta o locutor que um ano depois reunia centenas de pessoas no primeiro Picnicão.
"Ele podia ser nosso neto", foi a expressão de espanto que mais se ouviu quando os "tios" o conheciam pessoalmente e não imaginavam que por detrás do "Tio João" estava um jovem de 21 anos.
Pode não ter uma voz sensual, nem ser bom falante mas, como diz, fala "com o coração e a mesma linguagem da família".
Ao longo de 20 anos já lhe chamaram "parolo" e criticaram-no por "só trabalhar para velhos", mas Nicolau diz que trabalha para "gente grande".
Alguns não sabem ler nem escrever, mas mesmo desconhecendo uma nota musical que seja constroem canções, da mesma forma que versejam sobre todos os assuntos, contam histórias, lenga-lengas e são portadores de um património que se vai perdendo.
O programa começa religiosamente às 06:00 com as orações da manhã rezadas por um elemento da família, e segue-se uma "chuva" de telefonemas.
"Quando comecei o programa não imaginava que as pessoas podiam estar na apanha da cereja, encarrapitadas num cerdeiro e a falar para o "Tio João", os pastores com os rebanhos a conversar e a ouvir, ou que centenas de tractores tenham rádio instalado para enquanto trabalham ouvirem o Tio João", contou.
Para muitos o "Tio João" foi a oportunidade de saírem pela primeira vez da sua aldeia em excursões, cruzeiros e férias.
Já fizeram 171 viagens e a família foi duas vezes abençoada em Roma, em 1994, pelo papa João Paulo II e, em 2006, por Bento XVI.
Tem "família" espalhada por 2.472 localidades, sobretudo transmontanas e beirãs, mas em breve o programa vai chegar mais longe, rumo ao litoral, com a retransmissão através de outras emissoras.
O programa já ultrapassou as fronteiras com "tios" nas aldeias espanholas vizinhas de Bragança, e convites de universidades castelhanas para o "Tio João" falar a estudantes de Comunicação deste fenómeno.
A Internet abriu também novos mundos à família, permitindo aos "tios" ouvirem o programa quando estão longe em visita aos filhos ou "encontros" como o de uma tia que foi surpreendida pelo telefonema da filha que estava a ouvi-la na Austrália."
[Fonte: 'Diário de Notícias']